(“Comunidade dos Países de Língua Portuguesa“)
Dado o especial foco que tem sido dado às relações lusobrasileiras, seria impossível não abordar aqui a importância que tem a iminente ratificação por parte do Governo português do Acordo Ortográfico… E assim faremos já de seguida.
Não faltam os “velhos do Restelo” que como Vasco Graça Moura o criticam… Não sem ter parte interessada na questão, já que obtendo parte significativa dos seus proveitos na actividade de tradução. Graça Moura não é propriamente uma figura neutra nesta questão… É que as suas traduções serão afectadas pelo acordo e que os seus livros terão que competir directamente com os de outros autores lusófonos, isso dificilmente não afectará o seu julgamento… Graça Moura acusa os que defendem o Acordo de “falta de visão no plano científico, económico e estratégico” e a generalidade dos editores portugueses alinham pela mesma bitola pessimista. Mas poderão ou deverão os 10 milhões de portugueses ignorar o peso demográfico e económico dos 180 milhões de brasileiros? Poderemos deixar que a nossa língua caminhe para percursos distintos e contrapostos e nada fazer contra isso?
E, sobretudo… Será possível não ratificar o Acordo? Criado em 1990, o Acordo parecia dormente, mas apenas “parecia”, já que em 2006, Cabo Verde e São Tomé e Princípe, o ratificaram, somando-se assim ao Brasil, e dando ao Acordo as três ratificações necessárias para que entrasse imediatamente em vigor nestes três países. Portugal, o país de onde tinha surgido – juntamente com a Galiza – a própria matriz da língua portuguesa podia continuar fora? Compreendemos bem as hesitações dos editores portugueses… Receiam pelos mercados educativos nos PALOPs, um muito significativo destino para as suas edições escolares e onde – com a homogenia da grafia – terão que passar a concorrer com os editores livreiros… A situação é particularmente preocupante em Angola, onde a recuperação económica é cada vez mais viçosa e há dinheiro para fazer um investimento sério e continuado na Educação dos mais jovens.
Sem dúvida que a homogeneização do português poderá favorecer os editores brasileiros, que adoptaram o Acordo logo desde o começo e sem as hesitações dos portugueses e que nem adoptaram a moratória de 10 anos prevista no Acordo e a que vai recorrer Portugal… É certo que o acordo parece mais favorável ao Brasil, pelo menos no domínio restrito das palavras alteradas, já que se no Brasil apenas 0,5% das palavras sofrem alteração, em Portugal essa percentagem irá ascender aos 1,6%, ou seja, o trabalho de “Find&Replace” nos textos portugueses a publicar será maior em Portugal… Mas será um custo assim tão significativo? E será que devemos temer assim tanto o ímpeto exportador do Brasil? O Brasil é ainda infelizmente um país globalmente ileterato, com 20% dentro desse número (ver AQUI) e a esmagadora maioria da edição brasileira fica apenas em duas grandes cidades, Rio de Janeiro e São Paulo, não chegando sequer ao resto do extenso território brasileiro… Os editores portugueses que aproveitem a moratória de 10 anos… Que convertam as suas edições e estabeleçam parceiras com editoras e com governos africanos e o crescimento económico que se regista actualmente nos PALOPs há-de bastar para todos, incluindo para os próprios… E se em vez de temerem o “Outro” começarem a olhar para as oportunidades que o Acordo também deixa antever, talvez se devessem preparar para exportar para o Brasil, país que como vimos, tem neste domínio ainda um grande (o maior) problema a vencer…
Assim, concordamos com a decisão de Luís Amado (nem sempre temos estado de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros) e acreditamos que o Acordo pode ser um instrumento importante para aproximar os Países Lusófonos, caminhar para aquela União pela qual tanto nos tempos batido neste e noutro espaço e criar novas condições para que se facilite o ensino da língua portuguesa (pela aproximação entre o português falado e o escrito e pela homogeneização da grafia) e contribuir assim decisivamente para vencer essa grande batalha do espaço lusófono que é a batalha pela qualificação e pela potenciação da riqueza humana destes países.
Fica por fim, uma muito sumária lista de algumas palavras alteradas, aqui e além-mar, baseada no artigo da passada semana do jornal “Público”:
Em Portugal:
acção -> ação
óptimo -> ótimo
tecto -> teto
lêem .> leem
No Brasil:
lingüiça -> linguiça
seqüência -> sequência
assembléia -> assembleia
idéia -> ideia
vôo -> voo
Em todos os países lusófonos:
As letras k,w e y são inseridas na lista de letras aceites em todos os alfabetos da lusofonia e o hífen tem novas regras que levam a que, por exemplo:
contra-regra -> contrarregra e
anti-semita -> antissemita
P.S.: E quem diria que eu e… este senhor estaríamos de acordo sobre a mesma coisa?
Fonte: Público de 6 de Dezembro de 2007
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