Este é o diálogo mantido com Rodrigo Borges e aqui reproduzido com a sua autorização sobre a essência, natureza e objectivos do Movimento Quintano. Fica aqui publicado o artigo de forma a aproveitar o enriquecimento de ideias que este interessante diálogo produziu e a divulgar os conceitos radicais e inovadores que estão por detrás daquilo a que temos chamado de “Movimento Quintano”, e que pretende tornar reais os conceitos políticos e sociais advogados pelo professor Agostinho da Silva e pelo economista E. F. Schumacher:
Rodrigo:
“No que consiste aderir ao Movimento Quintano? Ao meu ver uma união entre Portugal e Brasil, obrigaria Portugal a deixar a União Européia para não desestabilizá-la!”
MovV:
“Bom Dia,
Mais do que destabilizar, a União Brasil-Portugal iria Quebrar a União Europeia, fazendo sair dela Portugal (que nunca nela teve de facto lugar, económica e culturalmente) e procurando depois cativar os demais países mediterrânicos e latinos, Galiza numa primeira fase e Catalunha, Itália e as demais “Espanhas” (porque as há várias) depois…”
Rodrigo:
“Infelizmente não creio que Portugal faça alguma falta significativa à UE, uma União Latina, seria excelente, mas tremendamente difícil, creio que primeiro seja necessário haver a união da América Latina como um todo e outra União independente entre os Latinos Europeus, falando como Latino Americano que sou, jamais aceitaremos uma neocolonização européia, não preciso dizer os enormes estragos que vocês fizeram neste continente, portanto é razoável e compreensível de se esperar que nós também estejamos totalmente dispostos a desprezá-los ou explorá-los com o mesmo afinco com que nos fizeram no passado.”
MovV:
“Não fazemos… Como mercado, somos poucos (apenas 10 milhões). A “União Latina” seria apenas a última fase do projecto gisado na década de 60 pelo professor Agostinho da Silva quando vivia em Brasília. A primeira fase começaria por uma União Brasil-Portugal ou Portugal-Galiza, bem mais possíveis de cumprir que a muito ambiciosa e irrealizável a curto prazo “União Latina”. Fizemos estragos, claro… Como os romanos fizeram a nós no seu devido tempo, os invasores almorávidas de Marrocos, ou… Mas isso é restringirmo-nos ao aspecto negativo das relações entre os povos. Os portugueses nunca fizeram genocídios massivos como os castelhanos e conseguiram esse grande milagre de dar ao Brasil as condições para se manter uno e de ser hoje em potencia uma das maiores potencias mundiais… O grande exemplo que esta união poderia dar ao mundo seria a de uma união paritária, sem centralismos e com todas as partes vivendo em sã harmonia. O Portugal de hoje não é colonialista nem é temido por ninguém. E o Brasil é (apesar de tudo) um exemplo mundial de integração racial (o que se deve em boa parte tb à herança portuguesa e à sua tradição de tolerância racial).”
Rodrigo:
“Imagine o Brasil gigantescamente maior que todos os 27 países da UE em população, extensão e riquezas/recursos naturais, minerais etc., passar da noite para o dia a ter o EURO como moeda!”
MovV:
“O Euro só interessa às multinacionais e às economias do norte da Europa. Não a países como Portugal… Aliás, acreditamos nas virtudes das moedas locais (municipais) embora deva existir uma moeda transnacional, como o Euro ou o Dólar… Uma União Brasil-Portugal poderia adoptar uma ou outra para as suas relações comerciais com o exterior, mas a economia “real” e interior seria erigida em torno de moedas locais, como a “vossa” Palmas.”
Rodrigo:
“A questão é se Portugal está disposto a abrir mão do seu orgulho para virar apenas um apêndice do Brasil, mesmo que Angola e Moçambique também venham a fazer parte do reino, Brasil continuará sendo seu centro, na verdade mesmo que todas as nações Latinas se unam, pois somos a maior nação Latina do Mundo. Se um dos objetivos do Movimento Quintano é propor uma união Política, Militar e Econômica entre todos os povos Latinos, acredito que seja mas fácil começar pela econômica, com uma UL rival da UE. Podemos aprender muito com o exemplo da UE. Mas acredito que o futuro da Europa é a própria Europa completamente unida para rivalizar com China e EUA, e portanto acredito que o futuro da América Latina é a própria América Latina, uma ULA (União Latino Americana), isso não impede de ambas as organizações se apoiarem mutuamente principalmente na ciência, cultura e desenvolvimento econômico.”
MovV:
“Que orgulho?… Os portugueses são dos povos menos orgulhosos do mundo… e ainda bem! Admito que possa haver alguns portugueses com o dito, mas da nossa parte não o temos… Não nos choca (e a mim particularmente que escrevo estas linhas) ver Portugal integrado numa federação paritária com o Brasil, mas preservando a matriz essencial, que é a da federação de municípios e diluindo fortemente as competências dos Estados e, sobretudo, de Brasília e Lisboa, na soberania democrática representada pelos Municípios, na boa tradição medieval (Dom Dinis) portuguesa. A Federação Europeia é uma ideia defunta… Não existe uma noção de “nação” nem a coesão bastante… Existem apenas “interesses” por vezes em colisão… Não auguro nenhum futuro a esse projecto.”
Rodrigo:
“Jamais UE aprovaria uma coisa destas, abrir as fronteiras e ter uma cidadania completa como os Portugueses dentro da UE pior ainda, liberdade de locomoção e residência dentro da UE, uma piada.
Sendo assim, creio que as vantagens para Portugal numa eventual união com o Brasil são excelentes, em quase todos os sentidos, a única maneira ao meu ver de Portugal aparecer no cenário mundial, mas não dá para negar que o Brasil seria o centro do Reino, Portugal teria que se contentar em ser apenas um território de Ultramar do Brasil, somos quase 200 vezes o tamanho da população de Portugal, mas apesar de tudo ainda acho melhor para Portugal se unir conosco do que com a Espanha, em termos de cultura, língua e etc… Se é para ser engolido por outra nação que seja pelo menos numa de mesma língua.”
MovV:
“De facto. Projectaria mais do que Portugal, a própria lusofonia, daria ao mundo um exemplo de como dois países tão distantes podem formar uma entidade estável, pacífica e pólo de desenvolvimento humano e económico. A integração segundo o modelo simples Brasil-Portugal daria ao primeiro um peso esmagador, é certo, dada a sua dimensão comparativa demográfica e economicamente falando. Aliás, outra coisa seria puro colonialismo… Mas esta União seria apenas o primeiro passo de outras uniões lusófonas e depois de outras União latinas… Este é o essencial do projecto de Agostinho da Silva, aliás. Uma entre várias… E o peso do Brasil seria diluído porque a União regressaria ao Povo, as entidades municipais seriam o principal centro de poder e administração e os Estados centrais (ou federais) perderiam competências e poderes para os municípios… Assim se diluiria o peso de uma parte frente às demais… É que não haveria nem “Brasil”, nem “Portugal”, mas federações de municípios livres e semi-independentes, portugueses e brasileiros…
Rodrigo:
“Já pensaram aonde seria a eventual Capital? São Paulo a maior cidade talvez, não creio que portugal esteja disposto a ser absorvido pelo Brasil, mas por outro lado milhões de Brasileiros mudariam a face de Portugal, pelo menos estaria resolvido o problema da baixa taxa de natalidade e a reposição da população.”
MovV:
“Provavelmente a melhor opção seria estabelecer uma capital rotativa, ou como sugeriu em tempos Agostinho, fundar a capital em Cabo Verde…. E sim, consideramos que a emigração pode ser uma solução válida para o problema do decréscimo demográfico português. Mas não uma solução definitiva, mas apenas provisória… É que acreditamos que cada povo deve poder crescer e desenvolver-se no seu próprio território, e por território quero dizer, a sua cidade, não o seu país, já que defendemos a primazia das Economias Regionais sobre as Nacionais ou Estatais.”
Rodrigo:
“Quais as vantagens para o Brasil? Tirando a nossa moeda passar a ser o Euro também como em Portugal, o que duvido muito que algum dia aconteça. Particularmente não vejo mais nenhuma. Passaporte para a Europa duvido.”
MovV:
“O Brasil teria um pé na Europa, dar-lhe-ia um papel renovado de importância no mundo, abrir-lhe-ia os mercados ricos do norte da Europa e enfim… tornaria o Brasil (de facto a União) numa das maiores potencias económicas, políticas e militares do mundo…”
Rodrigo:
“Infelizmente há um exagero aqui, Portugal e Brasil juntos não aumentariam significativamente o PIB do Brasil, pelo contrário o Brasil é que aumentaria do PIB de Portugal como este jamais sonhou desde a nossa Independência! Militarmente falando a mesma coisa! Agora em termos de cultura, educação, universidades, ensino e pesquisa, tecnologia e política, aí sim creio que seria enriquecedor para ambos, é por isso que estou disposto a aderir ao Movimento! Mas actualmente o Brasil está mais interessado em se unificar com o nosso próprio continente Sul americano. Necessitamos investir muito ainda em infraestrutura para integrar todo o continente, mas o Mercosul, está preste a englobar a União Andina e futuramente o México, será o protótipo para a união Latino americana, este é o nosso principal foco, primeiro econômico, depois político e militar, creio que o de Portugal também deva ser a UE.”
MovV:
“Haveria um aumento do PIB, mas este seria diluído dada a imensa massa demográfica constituída pela população brasileira, é verdade… Militarmente já não seria assim… A FAP alinha com meios superiores aos da FAB (infelizmente esta deixou-se ficar para trás nos últimos anos), os F-16 MLU, no mar, a nossa Marinha não sendo das melhores e maiores da Europa é muito significativa e em terra a experiência do Ultramar e em missões humanitárias (onde o Brasil está mais ausente do que devia, excepção feita ao Haiti) e a renovação de equipamento em curso também é significativa. A potencia militar resultante seria apreciável, parece-me a mim. E sim, concordo… A grande potenciação de uma União destas seria precisamente no aspecto Cultural. Aqui, no domínio da Investigação, da Educação haveria certamente um beneficio quase imediato nesta União… O Mercosul tem um enfoque demasiado economicista, parece-me, sendo como é uma espécie de “União Europeia” da América do Sul… mas é um projecto virtuoso, com pernas para andar… Mas a ideia que tenho é que está meio encravado ou bloqueado. Não é assim?”
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