A instalação de uma estação de radar na República Checa e de postos de lançamento de mísseis na Polónia, ambos no âmbito do programa NMD (“National Missile Defense”) irritaram Moscovo, pela falta de habilidade diplomática e pela inexistência de negociações prévias à sua instalação… Com efeito, seria perfeitamente possível integrar a Rússia num sistema anti-míssil conjunto, dada a expertise russa na área e a sua proximidade fronteiriça com os Estados de onde os EUA podem legitimamente esperar ataques: Irão, China e Coreia do Norte. Do ponto de vista técnico e geográfico, faria todo o sentido alinhar com a Rússia para estabelecer uma rede de defesa anti-míssil, e se este alinhamento não existiu (procura-se apenas o consentimento russo por um sistema que lhe montam nas fronteiras) é devido a uma intenção clara de exclusão do gigante russo e por uma tendência centripetista que ainda domina o círculo neocónico de Bush.O mais irónico é que esta preocupação americana por um sistema anti-mísseis é nova… Durante toda a Guerra Fria não houve realmente nenhuma rede idêntica montada nos EUA. As primeiras preocupações datam de 1957 e do novo sentimento de vulnerabilidade experimentado com o lançamento do Sputnik e com a demonstração da capacidade soviética para colocar uma arma nuclear algures nos Estados Unidos. Como resposta a este sentido novo para a América de vulnerabilidade no seu próprio solo, é lançado o programa “Nike Zeus” composto por mísseis interceptores de longa distância dotados de ogivas nucleares que deviam explodir em vôo, perto dos mísseis soviéticos e assim provocar a sua destruição. Em 1966, Kennedy lança o programa “Sentinel”, já que o “Nike Zeus” não chegara a estabelecer nenhuma rede operacional e pretende instalar em torno das maiores cidades americanas uma rede de mísseis interceptores. Mas de novo, com o “Sentinel”, os EUA acabam por não montar nenhuma rede efectiva, e em 1974, lançam o programa “Safeguard”, muito menos ambicioso e prevendo apenas a instalação de anti-mísseis em torno de locais com silos balísticos, e abandonando a tese da defesa das grandes cidades. Mas nessa época o orçamento de defesa americano estava esmagado pelos custos crescentes da Guerra do Vietname, e, de novo, o programa “Safeguard” resulta num fracasso humilhante… Apenas um local de lançamento é construído e tornado operacional.
Só em 2001, é que os EUA regressam ao conceito, sob pressão do complexo militar industrial, e do grupo de neocons que rodeiam Bush. Ironicamente, durante todo este tempo, a União Soviética/Rússia manteve um sistema ABM activo e funcional em torno de Moscovo, ao contrário dos EUA, que tirando a única estação “Safeguard” (e mesmo esta orientada para a defesa de silos, e não de cidades) nunca tiveram nenhuma rede ABM activa…
Fonte:
Artigo de Olivier Zajec; Le Monde Diplomatique; Julho de 2007; edição francesa.
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