O professor Agostinho da Silva localizava nas civilizações pré-indoeuropeias da bacia do Mediterrâneo, a matriz cultural ainda hoje bem viva nos povos latinos do Sul que possibilitava a estes “homens morenos ou peles-vermelhas” uma atitude perante a Natureza perfeitamente distante daquela experimentada pelos povos “solares” de “faces pálidas e cabeleiras louras” que invadiram o Sul a partir das escuras e frias florestas do Norte, trazendo a morte e a destruição de sistemas mais naturalísticos como a religião pagã greco-romana e impondo uma religião que ainda que fosse inicialmente tão naturalística como a greco-romana já trazia os gérmens para uma religião solar e masculina que haveria de vencer e esmagar até à aniquilação as religiões naturalísticas e “femininas” das deusas-mãe bem toleradas e absorvidas pela religião oficial do império romano. Como escreveria Agostinho: “a homens instalados no mundo como uma realidade, e pouco preocupados com organização, acção, política, talvez moral, talvez saber, desceu a invasão dos que iriam criar teologia, filosofia e bancos, universidades e ascensores, ideias gerais e carteiras de identidade, eficiência e responsabilidade, o governo, e seu espanhol contra, o bravo espanhol que nunca se rendeu e considera toda essa civilização como o máximo de selvajaria, e é, mas desaparecerá”.
Seria esta civilização, que “trabalha em lugar de contemplar” que haveria de colapsar sendo substituída por um “Império do Espírito Santo”, mais humano e menos exigente em relação à Natureza. E contudo, o pensador luso-brasileiro não rejeita os benefícios materiais desta civilização… Mas em lugar de os considerar centrais, ou como meios e fins de toda a vida e acção humanas, julga que o tecnicismo vigente poderia servir para suprir a “Fome” que levou à Queda da Natureza do Homem primitivo e conceder-lhe os tempos de lazer e a “barriga farta” essenciais para recriar o “homem conversador” de antanho… Mas hoje, perante a multiplicação do poder das máquinas e das suas capacidades, embora assistamos a uma vida de lazer efectiva por parte de alguns segmentos muito limitados da população mundial, a esmagadora desta continua alheia a estes benefícios… As vantagens do maquinismo são usadas para aumentar ainda mais os níveis de consumo e de satisfação material de muito poucos, e cada vez são explorados de forma sub-humana em nome desses “accionistas invisiveis” e de multimilionários cada vez mais ricos, poderosos e influentes, merçê dos Media que se esforçam por controlar e silenciar, um por um… O Homem afasta-se assim do “paraíso terreal”, sempre possível e profetizado desde há muito, criando uma religião materialística e antropocêntrica que acabará por devorar o mundo, e nele, o próprio Homem.
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