Quando George Bush declarou em Tirana (Albânia), a 10 de Julho que as longas negociações entre a comunidade internacional e a Sérvia deviam terminar e que se o Kosovo declarasse unilateralmente a sua independência, os EUA a reconheceriam… Uma tal declaração revela mais uma vez a imensa ignorância búshica quanto à História e quando à natureza das coisas no turbulento e sempre explosivo caldeirão balcânico… É que foi precisamente o reconhecimento precoce da Alemanha e do Vaticano da independência da católica Croácia que desencadeou a sanguinária Guerra Civil da Ex-Jugoslávia… É que se o Kosovo se mantêm hoje como região semi-independente da Sérvia (segundo a ONU ainda a sua potencia legal administrativa) isso deve-se à presença de 17 mil soldados na NATO… A independência unilateral do Kosovo poderá reaquecer o caldeirão balcânico e motivar a união directa com a Albânia, criando assim a “Grande Albânia” sonhada pelas mafias albanesas que dominam o narcotráfico e tráfego de carne branca na região e em Itália… Esta “Grande Albânia”, legitimada pelos EUA e pela sua dócil NATO poderá servir de incentivo para revivificar os sonhos adormecidos mas não esquecidos de uma “Grande Croácia” e de uma “Grande Sérvia” à custa da Bósnia-Hezgozvina…
As instituições democráticas e autonómicas kosovares simplesmente não existem ainda… A administração provisória do pequeno território compete à ONU e os partidos e políticos kosovares estão infiltrados profundamente pela narco-guerrilha do “extinto” UÇK com laços fortes e constantes com as mafias albanesas, sediadas no outro lado da fronteira no “Estado falhado” albanês. Não havendo assim as estruturas políticas e administrativas básicas, na ausência de uma matriz cultural e linguística autónomas ao Kosovo e reconhecendo-se a incapacidade económica de solvência do território, o ímpeto para uma união com a Albânia é irreprimível, caso ocorra mesmo esta declaração unilateral de independência… Em si mesma, a união destas duas “albânias” não é negativa, nem deve ser negada a longo prazo, mas a sua ocorrência agora, neste momento e nas circunstâncias actuais em que temos um Estado albanês mafioso e criminalizado e uma série de outros actores regionais que irão aproveitar o pretexto para reacenderem as chamas da guerra é um erro estratégico crasso e sinómino de uma cegueira estratégica profunda que já levou a América e o Ocidente a uma guerra desastrosa e inconsequente no atoleiro iraquiano…
Fonte:
Ignacio Ramonet; Le Monde Diplomatique; Julho de 2007; edição francesa.
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