A primeira referência pública indirecta de Hitler à existência de “armas secretas” data do Outono de 1941 quando num discurso no Palácio dos Desportos em Berlim o ditador enumerava as razões que o levavam a acreditar na inevitável derrota da União Soviética: “o génio inventivo dos sábios deste país não era uma quantidade para desprezar no quadro dos factores em que a guerra estava a evoluir.”
Com o avanço soviético a leste e com a eminência do desembarque aliado a Oeste a estratégia alemã foi subitamente invertida por Hitler. Vendo que lhe era impossível combater na quantidade contra os numerosos adversários que tinha atraído, Hitler decidiu concentrar-se na qualidade. A partir de princípios de 1943 foram aceleradas dramaticamente as investigações de novas armas que devolveriam à Alemanha a superioridade nos campos de batalha. Foram dadas ordens às tropas que se batiam na frente Leste para retardarem ao máximo o avanço soviético, mas que fossem sempre recuando ordeiramente enquanto não chegavam as novas armas, mas estas, quando chegaram, em números muito escassos, foram quase todas empregues a Ocidente, e raramente a Leste porque Hitler acreditava que era possível obrigar os aliados ocidentais a assinar a paz, podendo depois a Alemanha dedicar-se exclusivamente ao “urso” russo. A existência destas armas foi largamente publicitada pelos alemães numa tentativa de ganhar alguma espécie de vantagem psicológica sobre os aliados em progresso pelos campos alemães e para moralizar o próprio povo alemão. A prioridade estratégica dada pela Alemanha nazi às “Armas Secretas” a partir de 1943 é-nos revelada pelas afirmações que, em Lisboa (um ponto privilegiado de contactos mais ou menos secretos entre Aliados e o Eixo), um certo capitão Kramer da Abwer teria feito ao Coronel Kowalewski, um agente polaco ao serviço dos Serviços Secretos Britânicos em Outubro de 1943: “…Nós temos armas novas. O mundo ficará surpreendido com o seu efeito devastador. Estão a ser preparadas coisas colossais. Verá. Nada nos pode deter. Londres será destruída e todo o Sul da Inglaterra ficará em chamas. A Grã-Bretanha deixará de existir como nação organizada. Nada lhe posso dizer sobre o aspecto técnico dessas armas secretas, mas pode acreditar quando lhe digo que a sua produção está muito avançada e já começámos a sua instalação.” Das afirmações se deduz facilmente que Kramer se referia aos V-1 e V-2, que em 1943 se esperava produzirem precisamente esses efeitos no Sul de Inglaterra. É o mesmo agente polaco que declara que os Aliados conheciam a viragem estratégica alemã para os efeitos miraculosos da aplicação das “Armas Secretas” quando ao reportar o encontro com Kramer retira as seguintes conclusões: “Aqueles que ainda acreditavam que a vitória era possível, contavam unicamente com as armas secretas para salvar a Alemanha do seu destino [após Estalinegrado]. Mas, entretanto, os Aliados já sabiam da existência dessas armas e a contribuição de Kramer consistiria em revelar onde e quando seriam empregadas. O grande erro alemão tinha sido o de concentrar tantos esforços na produção dessas armas secretas para destruir a Inglaterra, a ponto de a produção de aviões ter sofrido bastante com isso”. A importância das “armas secretas” em investigação em 1943 era já suficiente para merecer a Hitler o seguinte comentário, proferido a 31 de Maio durante uma reunião sobre a ocupação da Espanha e de Gibraltar: “O ataque a Gibraltar, empregando algumas das nossas armas secretas, tem inconvenientes, o principal dos quais é o dos ingleses descobrirem essas armas ficando assim a conhecê-las e impedindo o efeito de surpresa que pretendemos alcançar no momento oportuno do seu emprego”. O próprio Adolf Hitler no Natal de 1944 terá comunicado, através da Rádio Berlim, a existência de uma “Arma de Extermínio Total”, cuja conclusão estava eminente. Esta seria, nada mais, nada menos, a bomba atómica, que efectivamente se encontrava então num estádio avançado de produção, depois travado. Esta foi apenas uma das muitas manobras propagandísticas para elevar o moral do povo e do exército alemão, fazendo-lhes crer numa súbita inversão das condições militares pela utilização generalizada de grande quantidades de armas milagrosas que estavam a ser desenvolvidas pelos cientistas alemães e que a indústria começara agora a produzir. Perante a esmagadora superioridade numérica aliada (especialmente na Frente Leste), restava apenas a Alemanha vencer a batalha da Qualidade. A crença na supremacia racial alemã e na sua superior inteligência estava perfeitamente consonante com a superioridade técnica que lhe permitiria essa Vitória qualitativa. Por outro lado, o intenso misticismo que impregna todos os domínios e manifestações do III Reich adequava-se na perfeição às obscuras e misteriosas “armas secretas”, além do mais um excelente instrumento propagandístico. São estes fins políticos que observou o embaixador italiano em Berlim em 1943, Alfieri (“Dois ditadores frente a frente”): “[Hitler] deu-lhes o nome de armas secretas com um objectivo de propaganda. Queria ferir a imaginação do povo alemão e envolver num veu de lenda e mistério impenetrável o seu poder mágico e diabólico. Tratava-se, efectivamente, de armas novas que a serem utilizadas, em grande escala, poderiam mudar o curso da guerra.” Para defender as regiões onde as investigações e os testes eram conduzidos o regime nazi chegou ao ponto de fazer circular boatos acerca de fantasmas e a ressuscitar as bruxas, sobretudo quando as zonas eram rodeadas por florestas quase impenetráveis.
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Lula relança programa nuclear brasileiro
As declarações do presidente Luis Inácio Lula da Silva sobre energia nuclear na tarde de ontem foram bem recebidas pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética do Ministério de Minas e Energia. Já o grupo ambientalista Greenpeace aumentou o estado de alerta contra o uso de usinas atômicas no país.
Em visita ao Centro Experimental Aramar, responsável pelos estudos da Marinha com tecnologia nuclear, Lula afirmou que o país tem condições – e deve – dominar todo o ciclo do enriquecimento do urânio.
“Nós vamos concluir Angra III e, se for necessário construir mais, nós vamos construir, até porque é uma energia limpa”, disse o presidente. A conclusão da usina no Rio de Janeiro foi aprovada no dia 25 de junho pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética).
Além da conclusão da usina em solo fluminense, o presidente disse que o país pode “sonhar grande” e prometeu mais R$ 1,04 bilhão nos próximos oito anos para o projeto da Marinha de construção de um submarino nuclear. “Se estava faltando dinheiro, não vai faltar mais, porque nós vamos colocar o dinheiro necessário”, afirmou.
Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética do Ministério de Minas e Energia, considera a energia nuclear a alternativa mais viável para a base da matriz energética brasileira a longo prazo. “Angra 3 é uma usina para funcionar na base. A longo prazo, não teremos mais tanta hidreletricidade disponível, então, a energia nuclear é uma das alternativas para a base da matriz”, avalia.
O projeto de Angra 3 – que vai custar ao todo cerca de R$ 7 bilhões – é de 1973. Críticos da usina tomam isso como um ponto negativo, avaliando que a eficiência dela não compensaria os riscos trazidos pelos resíduos atômicos. “A energia nuclear é extremamente cara, suja, perigosa e ultrapassada”, diz Guilherme Leonardi, coordenador da campanha de energia do Greenpeace Brasil. “O presidente Lula comete grandes equívocos nas suas afirmações”, condena.
Tolmasquim nega que o projeto esteja obsoleto: “Já existem projetos mais recentes de outras usinas nucleares, mas nenhum deles ainda implantado em larga escala”. A previsão de geração para Angra 3 é de cerca de 1,35 mil MW.
Apesar da retomada dos planos nucleares do Brasil, a energia hidrelétrica ainda deve ocupar o centro da matriz energética do país por muito tempo, avalia o presidente da EPE. Ele mostra empolgação ao falar das licenças concedidas pelo Ibama à construção de duas hidrelétricas no rio Madeira. “É muito bom para o país. São boas usinas, com grande capacidade de geração”, afirma.
Leonardi, do Greenpeace, defende o investimento em outras fontes: “O Brasil não precisa de energia nuclear porque tem fontes de energia que são mais baratas, que geram mais energia, em menos tempo e sem produzir lixo radioativo e sem ter a possibilidade de acidentes”.
A propósito do risco de acidentes, o presidente Lula afastou a possibilidade: “Não há nenhuma possibilidade de acontecer um acidente no Brasil como aconteceu em Chernobyl”. Leonardi rebate: “Talvez não tenha a possibilidade de acontecer como aconteceu em Chernobyl, mas há possibilidade de acontecer um acidente de gravíssimas proporções, uma vez que um acidente radioativo pode atingir um grande grupo populacional e o meio ambiente de uma forma muito severa”.
Armas para destruição em massa, literalmente foi e continua sendo, o produto mais apreciado por muitos governantes!.RGS.
pois… ainda que até agora nenhuma guerra tenha sido ganha com elas…
isto se uma não foi mesmo perdido precisamente por causa delas e do esforço nelas investido.
p.ex. quantos milhões de marcos gastaram os nazis nos V1 e V2? Quantas vítimas conseguiram com estas armas?… poucos milhares (2 a 3 mil mortos, na Bélgica e Reino Unido, quase todos civis).
Quantos King Tiger e Me262 teriam construído com o mesmo dinheiro?…