“Voltando à China, já algum que andamos com esta discussão, pelo que convém esclarecer os pontos de cada e definir metodologias para os validar, ou não. Eu sou apologista do liberalismo, da globalização, do capitalismo, da economia do mercado.”
-> Eu também sou apologista do Liberalismo, mas não confundo este termo com a associação abusiva que hoje dele se faz associando-o a extrapolações perigosas como o Neoconservadorismo, o Neoliberalismo e Globalização. Da Globalização, encaro-a com reservas porque a interpretação actual que temos da mesma é a da “Globalização das Multinacionais”, formatada para servir os seus interesses sobre tudo o mais, sacrificando as PMEs que deviam ser o coração de qualquer Economia, e pisando o Homem sempre a favor do Lucro. Do Capitalismo, retenho a necessidade imperativa de remunerar a aplicação do Capital, mas repugna-me a sua separação da Economia Real por virtualizações bolsistas (Taxa Tobin) e puramente especulativas, assim como o peso exagerado que tem actualmente na repartição dos dividendos (e a redução galopante que os Salários têm tido nos últimos anos). Da Economia de Mercado, retenho a intenção, mas contesto o Dumping fiscal e laboral massivo e defendo a reinstauração de barreiras alfandegárias que reintroduzam mecanismos de correcção destas disfunções.
“Considero que o comércio internacional global, a economia do mercado potencia o crescimento económico, o emprego, a criação de riqueza e redução da pobreza mundial.”
-> O comércio internacional global foi inventado pelos portugueses nos idos de Quinhentos e foram os mestres supremos na Arte de levar objectos de um lado para o outro do Globo, sem nada mais produzirem ou sem enriquecerem os objectos transportados. Durante 200 anos, levámos as Especiarias das Molucas para a Flandres e os Diamantes para a Suécia. Findo o ciclo, ficámos sem nada, porque não produzimos Riqueza nem Bens e este foi aquilo que nos ficou dessa primeira Globalização… Nada além da prova da memória. Esta Globalização é em certa medida idêntica à primeira: assenta no primado do Comércio, da Distribuição e da Capitalização sobre o primado da Produção e como, ela, produz grandes assimetrias entre os que muito têm e os que pouco ou nada têm… A única grande diferença é que agora se enriquece também na Índia e na China, mas não genéricamente, e sim reduzindo essa classe de “novos ricos” a um segmento muito restrito da população e criando clivagens económicas e sociais que mais cedo ou mais tarde vão provocar a implosão do sistema.
Estamos a falar de uma realidade complexa e vasta, onde ainda existem muitas situações negativas, não o nego, (não há sistemas perfeitos) mas o importante é analisar onde “estávamos” há 25 anos, onde estamos agora e analisar as tendência para prevermos onde podemos estar daqui a 25 anos.
-> Existem efectivamente muitas situações negativas no seio desta Globalização que nos querem impôr como “Pensamento Único” pela força do Dinheiro e do Poder comprado por este nas Megacampanhas eleitorais. Onde estamos desde há 25 anos? Podia fazer jorrar sobre este artigo multidões inumeráveis de citações, números e links. Mas não o farei, porque por cada link, citação ou número é sempe possível encontrar algures um contra-link, uma contra-citação ou um contra-número. A Realidade é por essência diversa e multiforme e admite sempre multiplas interpretações sobre o mesmo fenómeno… Especialmente quando estas são reguladas por mitos ou dogmas religiosos ou políticos, como é o caso deste debate sobre aquilo a que chamaria a “Essência da Globalização”.
“Portanto, o meu desafio é este: definir critérios ( pobreza, emprego, PIB etc…) nos diferentes países (EUA, Europa, China, índia…) quais os valores há 25 anos e como evoluíram nestes últimos 25 anos”
Existe uma camada de indíviduos que muito têm lucrado com a Globalização e a consequente abertura de fronteiras na Índia e na China… Não é por acaso que é na primeira que hoje se concentram os maiores multimilionários no Globo… E na China assistimos a uma multiplicação de pequenos e médios empresários cada vez mais abastados e com um nível de consumo em tudo idêntico ao da Europa Ocidental. Concedo uma coisa e a outra. Mas este enriquecimento e o crescimento do PIB indiano e chinês não têm correspondido a uma melhoria franca do nível de vida médio da esmagadora maioria da população! Dir-me-ás que este – apesar de tudo – melhor desde a década de 80, e poderei conceder tal, mas a melhoria é incomparávelmente menor do que a destes escalões da sociedade que têm enriquecido à custa do uso massivo de trabalho semiescravo, da inexistência de regras ecológicas e do dumping fiscal e remuneratório massivos! Enquanto que na China e na Índia se destrói o ambiente (a China dentro de apenas 5 anos será o maior emissor mundial de gases de efeito de estufa no mundo) para manter preços baixos e arrasar toda a concorrência, o mundo sobreaquece e países inteiros como Tuvalu (sede do domínio DNS .tv) afundam-se!
É este modelo economicista, que não hesita em sacrificar o Homem que escraviza e que faz retornar as condições laborais no Oriente e no Ocidente aos níveis de meados do Século XIX que urge combater. Os macro-números do PIB e do PNB nada significam se a riqueza criada não fôr devidamente distríbuida entre os detentores do Capital e os Produtores e os Consumidores e esta assimetria não tem parado de crescer no Ocidente, juntamente com uma evaporação crescente de todos os direitos ganhos nos últimos cinquenta anos de lutas laborais, sempre sob a ameaça pendente da “deslocalização” e do Desemprego Estrutural.
Comentários Recentes