(o “novo” mapa de Portugal, versão socrática in We Have Kaos in the Garden)
Certo dia, quando liguei a televisão, vi passar uma reportagem sobre a vida na aldeia do Piodão (Arganil), uma das mais belas aldeias portuguesas, situadas na Serra do Açor. A aldeia com 224 habitantes era alvo da reportagem da SIC devido à história do regresso à aldeia de um habitante das cidades que algures na década de oitenta regressara à aldeia para cumprir o trabalho de pastor. Hoje, o dito ex-urbano seria um funcionário das novas Brigadas Florestais, tendo desistido da vida de pastor, pela dureza e fraco rendimento da mesma. Mas este não é o tema central deste artigo…
O tema central é o estado vegetativo em que vive o Piódão e com ele, certamente, uma ampla maioria das aldeias do nosso Interior. A aldeia – que durante séculos foi economicamente solúvel e autonónomante viável – hoje em dia vegeta na mais total dependência do Estado central. Virtualmente todos os ordenados, todos os rendimentos locais dos seus 224 habitantes são provenientes directa ou indirectamente (em segundo grau) do Orçamento de Estado ou do Orçamento do Município de Arganil. Nenhuma ou quase nenhuma riqueza é gerada na aldeia, e consequentemente, nenhuma desta contribui para os rendimentos dos habitantes locais.
Ou seja, dos 224 habitantes, todos, sem excepção (segundo a reportagem) dependem de rendimentos vindos da Administração Central ou Local. Desde a maioria, que são reformados (pensão agrícola, e logo… mínima), aos bombeiros, aos sapadores florestais, ao presidente da junta de freguesia, posto de turismo, todos os empregos parecem resultar directamente do OGE… E mesmo o comércio, o único café da aldeia e a mercearia dependem também destes rendimentos.
O exemplo desta bela aldeia da Serra do Açor não é certamente único ou mesmo raro, neste nosso Portugal cada vez mais enfeudado aos ditames de Bruxelas que sonha em esvaziar o nosso Interior e em Tercializar a nossa Economia, reforçando o estéril sector financeiro (onde temos dos Bancos e Seguradoras mais eficientes e rentáveis do mundo) e destruindo cada vez o que resta do sector produtivo (industrial e agrícola) da nossa Economia. Hoje, em dia, já não é rentável, nem competitivo aos agricultores do Piódão produzir, tal é o dumping de produtos agrícolas do Oriente e – em menor grau – de Espanha. É esta situação que produz um crescente e cada vez mais absoluto ermamento do Interior que urge inverter. Em vez de encerramentos massivos de Tribunais, Hospitais, Urgências, Maternidades, Escolas e de um sem número de outros serviços é vital – pelo contrário – descentralizar, e atribuir aos municípios as competências que o Estado central parece pouco empenhado em cumprir, tornando Portugal numa entidade federal assente numa rede de municípios livres e cooperantes dependendo apenas da Capital nas suas competências de Política Externa e Defesa.
Comentários Recentes