Passava no outro dia, em rodapé num telejornal da RTP1, uma curta frase “Sócrates acusa Marques Mendes de ‘mudar de opinião’“. A notícia era a propósito daquele grande elefante chamado Ota e que tem como principal motivador a lendária e já proverbial teimosia socrática… Mas adiante, este Post não é sobre a Ota, projecto faraónico sobre o qual já escrevi o suficiente, mas sobre esta atitude característica da nossa (baixa) política e recebe tanto eco por parte dos nossos Media:
Mudar de Opinião é mau.
Os políticos de todos os partidos, os comentadores da imprensa e das televisões e rádios todos papagueam o mesmo discurso:
Mudar de Opinião é mau.
Mas será realmente? Eu próprio, mudo constantemente de opinião e não tenho nenhuma objecção moral de princípio à mudança de opinião. Se tomo uma certa decisão, com base num conjunto de dados que depois se vêm a revelar falsos ou incompletos. E penso que não sou assim tão extraordinário quanto isso, pois não? A maioria de nós segue pela mesma bitola, adaptando as suas posições às circunstâncias, consoante o devido e perante a alteração constante das mesmas… Mas porque é que os nossos políticos e os Media que em torno deles orbitam acreditam de uma forma tão inquestionável de que “mudar de opinião” é negativo, e uma espécie de sinal de fraqueza ou de falta de inteligência? Os nossos governantes não têm que ser – como o Papa – infalíveis, sobretudo, se as condições que os levaram a decidir por um lado ou por outro, mudarem. Este tique é provavelmente uma sobrevivência do Salazarismo, onde se defendia a tese de que o “Governo” (tido como coisa supra-humana e impossívelmente distante) nunca podia ser colocado em questão, porque ele sabia sempre o que era melhor para o “Povo”. Agora, num mundo onde Alvin Tofler reconheceu na já longínqua década de 80 que não só a mudança era cada vez maior, como também o próprio ritmo da mesma, será razoável esperar que alguém mantenha a mesma opinião para… Sempre? Será este um tique ainda proveniente do estrato “imperial romano” ainda tão marcante no substrato moral e político mediterrânico? Será que esta devoção pela “infabilidade política” é um traço ausente da mentalidade nórdica?
Na minha modesta opinião acho que tens razão Rui, mas sobre :
–“Será este um tique ainda proveniente do estrato “imperial romano” ainda tão marcante no substrato moral e político mediterrânico? Será que esta devoção pela “infabilidade política” é um traço ausente da mentalidade nórdica?” —
acho que tens aqui um pequeno lapso… substrato moral e politica não podem estar na mesma frase, para os nossos políticos ( acho que para os outros também..) , mudar de opinião é complicado vistao acharem sempre que têm razão e que os adversários de bancada estão errados.
Mas no brilhante duelo da nossa democracia PS vs PSD, em raros casos, assim que são oposição mudam imediatamente de opinião sobre o assunto que defendiam com tanta garra.
Acho que estás coberto de razão! Infelizmente a política é um mar de lodo fétido lobbista e podre onde qualquer ideia, debate,justiça é abatida a troco de poder, dinheiro e favor.
Nito: Moral e Política, deviam estar coincidentes e imersos um no outro!… é precisamente por não estarem que assistimos agora a este chorrilho de tristes episódios relacionados com o currículo de Sócrates… Eles mudam, sim, mas nunca o admitem e são criticados pelo outro quando a muda da forma subreptícia e nunca assumida que seguem!
Mudar de opinião?!
-Mas será que alguém, alguma vez na vida, muda de opinião?
-Para mim as pessoas não mudam de opinião; mudam é de interesses.
Mudamos de opinião e estamos correctos, quando com novos dados avaliamos novamente as situações.
Os políticos que temos parecem não primar pela inteligência, uma vez que constantemente são teimosos, de ideias fixas, julgando-se donos e senhores da razão.
E depois…não sabem fazer mais nada que fazer política baixa, ocupar cargos atrás de cargos, ficar com chorudas reformas, não dando lugar a uma geração mais nova quem sabe com valores diferentes…
Estamos num beco sem saída!
O que é preciso então?
Um novo Abril e correr com todo este centrismo alargado, egoísta, desumano, fiel a um só objectivo: enriquecer e deixar a maior parte da população mais pobre…
Ai Agostinho da Silva, estarás a ver para onde caminha este Portugal?
Um GRANDE abraço
Se é um facto que Marques Mendes mudou de ideia, também é um facto que aproveita o facto para fazer política ao máximo… é so fazer render o peixe da Ota como o da Independente. daqui a pouco a estratégia volta-se contra o próprio e o sócrates é que fica como vítima de tanto que se lhe bate. e nós sabemos que ele não é nenhum santinho
Era bom que mudassem pela Ota. Não é errado mudar quando estamos errados é errado mudar por conveniências somente para agradar os outros.
Só hoje é que vi este este post, por isso o meu comentário já vem um pouco tarde, de qualquer das formas, deixo a opinião de que mudar a opinião,( passo o pleonasmo) é sinal de inteligência, sinal de que somos capazes de assumir que estamos errados, e que por isso aquilo que pensavamos ser verdade numa certa altura da vida, agora já não é, portanto temos que mudar de opinião varias vezes, para não dizer muitas vezes durante toda a vida, aquilo que eu pensava p.ex., aos 10 ou 15 anos não é aquilko que penso agora com 30 e tal, e mesmo num espaço de tempo mais curto isso se aplica. Reconhecermos os nossos erros, mudar de opinião é , repito, sinal de inteligência.
abraço