A escravatura não é um dado novo no contexto da guerra peninsular entre cristãos e muçulmanos, sendo praticada frequentemente por ambos os lados.
A primeira referência à pratica do tráfico de escravos surge no Capítulo XII da Crónica de Zurara e diz respeito ao aprisionamento por Antão Gonçalves de dois indígenas – ainda não negros – ao largo da costa da Mauritânia. Estes dois individuos seriam depois usados como intérpretes em futuras expedições, aqueles a que Duarte Pacheco Pereira chamaria de línguas. É aliás, com Antão Gonçalves que se assiste à generalização da actividade comercial nas expedições à costa ocidental africana.
No Capítulo XVI para além de trocar dois cativos por dez mouros (mauritanos), Antão Gonçalves recolhe igualmente informações sobre os mercadores árabes e as suas rotas caravaneiras, encetando a primeira tentativa de fazer cumprir as ordens do Infante para descobrirem o caminho para o Reino do Prestes João.
A expedição de Lançarote de Lagos (citada nos Capítulos XVIII e XXIII) em 1444 resultou na captura de 223 escravos mouros.
É a partir de 1444 que se assiste a uma mudança de comportamento para com as populações indígenas. Posteriormente, João Fernandes seria deixado junto dos Azenegues, na região do Rio do Ouro, para recolher mais informações sobre as terras e riquezas do interior. É a partir desta estadia que a região começa a ser designada por Costa da Mina.
O relato de Zurara revela-nos a relativa humanidade com estes primeiros escravos eram recebidos por alguns portugueses da época, nomeadamente no ponto em que critica a maneira como eram tratados no mercado de escravos da cidade de Lagos.
Em 1444 Nuno Tristão é o primeiro a chegar à Terra dos Negros, trazendo para Portugal os primeiros escravos de raça negra. Numa viagem posterior João Fernandes é encontrado por Antão Gonçalves trazendo para Portugal novas informações sobre a região e nomeadamente contactos com Ahude Maimão, um régulo local que o informou sobre as rotas caravaneiras que iam de Fez a Timbuctu.
Os escravos seriam usados em grandes números na cultura do Açúcar na ilha da Madeira:
Em 1505, Dom Manuel determina que na Madeira só fiquem escravos das Canárias, mestres no cultivo do açúcar, embora mais tarde ordenasse a sua expulsão dado a sua característica agressividade e rebeldia.
Os escravos eram vendidos à peça, sendo os velhos e as crianças classificados como meias-peças. Estas informações e outras relacionadas, como a idade e o preço eram inscritas nos Livros dos Resgates.
Em Arguim, os escravos eram trocados por cavalos, seda mourisca e pratas:
Os mercadores penetravam no sertão seguindo os cursos de água e filhando todos os escravos que pudessem. Mais tarde – pela altura da assinatura do Tratado das Tordesilhas – este tipo de acção seria proibida. A obtenção de escravos por estrangeiros passa a requerer uma autorização, e, no caso de Cabo Verde, à existência de um acordo prévio com as autoridades do arquipélago. Estes escravos eram levados para a metrópole, sendo depois distribuídos pelas diversas possessões da Coroa portuguesa.
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