A revista “Dia D” do Jornal Expresso de 22 de Dezembro inclui uma interessante reportagem-entrevista a três portugueses que trabalham actualmente na sede da empresa finlandesa Nokia… É interessante na medida em que reflecte muito do temperamento e da firma de gerir uma empresa que levou a Nokia à posição que hoje ocupa no altamente competitivo mercado das comunicações móveis e interessante também porque a Finlândia foi exactamente o modelo de desenvolvimento que Sócrates escolheu para Portugal, tendo inclusivamente deslocado-se a esse país para estuda “in loco” (“em louco?”) esse país nórdico.
Segundo Alexandre Cunha, engenheiro de software:
1. “[na Finlândia] a lógica do ‘processo’ ganha contornos religiosos. Ganha-se maior clareza no trabalho e o debate não tem que ser muito longo’
2. “Os conflitos não se arrastam, têm que ser resolvidos na altura.”
3. “As decisões aqui não são tão democráticas como na Suécia, explica Luís Velez, “Lá, todos teriam que concordar primeiro; aqui há a prática de delegar directamente, ficando tudo registado por escrito.”
4. “Aposta na formação contínua dos trabalhadores.”
Sobre estes (muito sintetizados) quatro pontos, gostaria de deixar aqui estes comentários:
1. Em Portugal, todos conhecemos exemplos de procedimentos repetidos, executados vezes sem conta, que não conhecem mais existência do que a memória das pessoas que as executam… Quando vão de férias ou adoeçem ninguém sabe executar estas tarefas, porque os seus procedimentos não estão escritos, nem sequer foram divulgados e aprovados… São estes procedimentos que são seguidos de forma parareligiosa na Finlândia… Todas as actividades pertencem a um determinado “Processo” (Procedimento) e sempre que surge uma alteração, é criada uma Revisão do “Processo” que é prontamente divulgada por via electrónica à equipa que o executa. Nada, portanto, do informalismo e improvisão constante lusitana…
2. Quantas vezes nos perdemos em questíunculas bizantinas? Em discussões sobre o resultado desportivo da véspera, em discussões sobre falsos “pontos de trabalho” que de facto não passam de expressões de animosidades ou antigas Vendettas? Muitas… E isso deve ser o sangue quente mediterrânico que corre nas nossas veias, mas que… está ausente lá pelas bandas do Norte…
3. “Delegar por escrito”? Pois sim! Quantas vezes já recebera ordens oralmente, e depois no momento em que as coisas começam a patinar nada se confirma? Em Portugal, quase nada se faz por escrito, embora o Correio Electrónico seja já uma das mais importantes ferramentas de trabalho nas organizações portuguesas…
4. Quanto à 4. “Aposta na formação contínua dos trabalhadores.” Pois sim! Várias estatísticas indicam que Portugal distingue-se dos países do norte da Europa precisamente na escassez de actividades de formação profissional, raras entre nós… E a Lei do Trabalho é permissiva ao dizer que “devem existir N horas de formação por N trabalhadores”, isto é, basta que uns directores “viajem” a uns seminários de “gestores” em Paris para que 15 ou 20 trabalhadores não tenham as devidas horas de formação (a tal história da “média do frango“).
Acha que é possível aplicar os modelos nórdicos de gestão a Portugal? 1) Sim 2) Não View Results |
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