Após os atrozes e cruéis efeitos da aplicação dos gases tóxicos durante a Primeira Guerra Mundial, todos os estados, quer os do Eixo, quer os Aliados, cumpriram um acordo nunca passado ao papel que estipulava a sua não utilização no campo de batalha. É certamente devido à existência de um pacto não assinado que nenhum dos lados chegou a empregar durante a Segunda Grande Guerra, gases tóxicos. Apesar disso, ambos os lados desenvolveram as suas investigações, embora nunca estas tenham alcançado um nível minimamente prioritário em relação a outras armas secretas, mereçem pelo menos referência as experiências químicas, negadas por muito tempo pela historiografia soviética, que a Alemanha conduzia desde 1920 na URSS. O trabalho de G. Castellan, no seu excelente “Reichswehr et Armée Rouge, 1920-1939”, demonstra claramente essas mesmas relações. Básicamente estes contactos exprimiam-se pelo intercâmbio de oficiais e técnicos, e, principalmente, pela entrega à Alemanha de campos de treino e ensaio para os armamentos interditos pelo Tratado de Versalhes, a saber: aviões, carros de combate, e, para o que nos interessa: gases de combate. As experiências parecem ter cessado em 1939, fruto da ascensão de Hitler ao poder absoluto. Embora Hitler sempre se tivesse oposto à sua utilização (talvez por ter experimentado pessoalmente os seus efeitos na 1ª Guerra Mundial), ordenou que prosseguissem mas com um baixo nível de prioridade, o que não impediu que em 1944 fosse inventado o Soman (monopinacol-metilfluorofosfato), uma arma temível ainda para os dias de hoje. Além da investigação, a Alemanha também decidiu produzir contingentes de Tabum para usar de a ordem para tal alguma vez viesse, contingentes que seriam capturados pelos soviéticos na Prússia Oriental.
Os gases estudados na Alemanha nesse período destinavam-se principalmente a inibir a acção da colinesterasa, resultando numa paralisia neuromuscular e numa consequente depressão dos centros respiratório e circulatório. O primeiro gás de nervos resultante desta investigação foi o Tabum (monoetildimetilamido-cianofosfato), um composto descoberto em 1936. Em 1938 era criado o Sarim, mais tóxico mas menos volátil.
Além dos receios de Hitler, motivados pela sua experiência pessoal, outros factores, porventura bem mais importante terão levado ao afastamento dos gases venenosos do Segundo Conflito Mundial. Existia desde logo um grande receio pelas represálias que inevitávelmente haveriam de surgir, e a Alemanha, que perdera a partir de 1943 o domínio dos ares, temia particularmente o seu lançamento sobre as suas cidades. Aliás, no início da guerra, Churchill anunciara que se a Alemanha usasse gases a Grã-Bretanha responderia com ataques semelhantes a cidades alemãs. Estas declarações parecem ter afastado completamente a hipótese de utilização de gases venenosos na Frente Ocidental, mas essa possibilidade parece ter sido seriamente ponderada no Leste, especialmente depois da derrota de Estalinegrado, conforme se pode observar num relatório que o embaixador italiano em Berlim enviou a Mussolini em Fevereiro de 1943: “O Fuhrer tentara na Primavera [de 1943] uma nova ofensiva de grande estilo a Leste. Se esta não der os resultados decisivos que dela esperam, os alemães estão decididos a exterminar o exército russo empregando para isso os gases asfixiantes. Esses gases, de um novo tipo, encerrados em grandes reservatórios, podem ser lançados pela aviação… Têm um formidável poder de destruição e pelo menos durante um ano tornam completamente estéril o chão em que caem. Entre a Rússia e a Alemanha, criar-se-á assim uma zona de demarcação nitidamente demarcada onde a vida dos homens e animais será completamente impossível”.
Além do emprego terrestre de gases tóxicos, Hitler numa reunião em que estava presente o Almirante Doenitz comunicou-lhe a sua intenção de ordenar a investigação da sua aplicação marítima, através de duas maneiras:
1. Pelo exterior, através do lançamento de obuses sobre os navios-alvo ou através de pulverização;
2. Pelo interior, através da perfuração dos cascos e posterior rebentamento de ogivas.
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